Há 100 anos, Epitacio se elegeu presidente sem estar no Brasil
- A Folha do Vale - Jornal e Site
- 1 de abr. de 2019
- 2 min de leitura

Há 100 anos, os brasileiros votaram na eleição presidencial mais esdrúxula da sua história. Num caso sem paralelo, os eleitores que foram às urnas em 13 de abril de 1919 deram vitória a um candidato que havia passado todo o período eleitoral em Paris. Foi Epitacio Pessôa, que não voltou ao Brasil nem sequer para fazer campanha ou votar.
Epitacio só chegaria ao Brasil em julho, já presidente eleito, a bordo de um transatlântico. Ao desembarcar no porto do Rio de Janeiro, foi recebido com festa pela população. Faltava apenas uma semana para a posse.
Na chegada, os jornalistas lhe perguntaram quem faria parte da nova equipe ministerial.
— Tenho pensado muito sobre o assunto, mas ainda nada decidi — limitou-se a responder, demonstrando irritação por não ter muito a dizer sobre o futuro governo.
Epitacio não estava na Europa a passeio. Ele era o chefe da delegação brasileira enviada à Conferência de Paz de Paris, na qual os países vitoriosos na Primeira Guerra Mundial acertaram os termos de paz com os derrotados. O Brasil ganhou um assento no encontro por ter entrado no conflito ao lado dos aliados, ainda que apenas nos momentos finais e como um minúsculo coadjuvante.
A curiosa eleição de abril de 1919 foi fora de época. Em janeiro, o Brasil havia sido sacudido pela morte do presidente Rodrigues Alves, por gripe espanhola, sem chegar a assumir o segundo mandato. Desde novembro de 1918, quando ele adoeceu, o Brasil vinha sendo governado interinamente pelo vice, Delfim Moreira.
Os brasileiros, então, foram chamados de novo às urnas. Quando a inesperada sucessão foi aberta, Epitacio já estava fora do Brasil. Uma carta dos caciques políticos logo chegou ao Hotel Plaza, o hotel cinco estrelas onde o brasileiro estava hospedado em Paris, avisando que ele se preparasse, pois seria o candidato do establishment.
“É um honra tão insigne quanto inesperada”, respondeu Epitacio num telegrama destinado ao vice-presidente do Senado, Antônio Azeredo (MT). “A espontaneidade da designação, feita em minha ausência e sem nenhuma sugestão da minha parte, me convence de que a própria República é que reclama meus serviços no posto supremo do seu governo.”
O Senado foi um ator político bastante presente nessa eleição. Primeiro, porque os dois candidatos eram senadores: Epitacio, representante da Paraíba, derrotou o colega Ruy Barbosa, da Bahia. Segundo, porque a Casa foi o palco da convenção nacional que apresentou Epitacio à população como o candidato oficial da elite política. Terceiro, porque a apuração final coube ao Senado e à Câmara dos Deputados, que tinham poder para anular os votos que considerassem fraudulentos.
Na eleição de 100 anos atrás, Epitacio ficou com 71% dos votos. Ruy, com 29%.
Agência do Senado











































































Comentários